Título Original: Idem
Diretor: João Moreira Salles
Ano: 2007
País: Brasil
documentário
Quando comentei Jogo de Cena, do Coutinho, havia dito que 2007 foi o ano que mudou o documentário nacional. Santiago é a segunda razão para tal. João Moreira Salles, que considera Coutinho como mestre e produz os documentários e projetos dele, também faz suas obras primas.
Santiago era um projeto de documentário abandonado, filmado em 1992, sobre uma figura muito interessante, que era o mordomo da família Salles, Santiago. Por si só já seria suficiente para um bom documentário, desses que investigam um bom personagem, caricato e engraçado, perdido no tempo. Santiago tinha peculiaridades muito interessantes, como o fato de ser um aficcionado pela linhagens de famílias nobres e conhecer todas as histórias, fofocas e boatos que rondavam essas famílias.
Mas não era suficiente para ser um tesão. Salles sabia disso e teve que esperar sua própria maturidade para encontrar nos negativos abandonados a sua própria história e uma auto-reflexão. Resumindo, deixou o filme com toque pessoal. Colocou uma narração em primeira pessoa (na voz de seu irmão), explorou as pontas do negativo, onde estava a sua relação com o personagem e explicitou referências: musicais, Ozu e Bethoven.
Não sei se eu teria coragem de fazer o que ele fez, pois as cenas que ouvimos os diálogos do mordomo com seu patrão nos dão certa angústia e desgosto pelo diretor, que maltrata e menospreza seu mordomo. Mas ele faz questão de mostrar suas fraquezas e, de certa forma, pedir perdão por não conseguir transpor a relação patrão-empregado para uma relação documentarista-objeto.
Talvez aí eu veja uma interferência de Coutinho na vida de Salles. Creio eu, de forma muito subjetiva, que Coutinho ensionou-o a gostar das pessoas, a se encantar com todo e qualquer personagem, a colocar as pessoas no pedestal mais alto da hierarquia documental.
E além de tudo isso (!), que fotografia linda! (do Walter Carvalho) Que montagem precisa! E ouvi dizer que este nosso pequeno gênio do cinema, não sei porque, cansou de brincar com a sétima arte e não tem novos projetos. Faço um apelo para que o João Moreira Salles não nos deixe na mão...
(não encontrei torrent deste filme, mas este blog para onde leva este link tem a possibilidade de baixar o mesmo em duas partes)
Cena do youtube (trailer):
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Próxima semana:
Uma conversa, uma outra visão.
Uma conversa, uma outra visão.
Volta João !!! "...Volta para os seios de sua amada! (...)"
ResponderExcluirLindo filme, lindo texto!
Acabei de terminar de ver o filme.
ResponderExcluirE estou aqui pensativa..."a vida é uma grande tragédia?"
"Sim" é a resposta sábia, que vai me fazer ficar pensando sobre redenção e resignação, pelas próximas horas...
Gostei muito de você ter colocado o filme aqui. Há anos queria assisti-lo e não lembrava dele. Obrigada por me recordar!
E parabéns pelo texto...
Ainda não vi este filme e não pretendo ir a Espanha, mas estou indo a caminho dele.
ResponderExcluirJá fui na casa do filme, um palácio da arquitetura moderna. Hoje é ocupada pelO IMS - Instituto Moreira Salles, que realiza boas exposições e tem um cinema (inconfortavel). Um bom programa para a próxima vinda ao Rio.
:-))
O próximo da fila se passa numa ilha que as vezes não é ilha?
ResponderExcluirSim!
ResponderExcluirMuito coerente com o filme, este conceito sem conceito. Assim como o cachimbo que não é cachimbo.
Você foi bem nessa! A dica era meio genérica, mas como já falei deste filme no outro blog e você assistiu outro dia...
Sim, assisti outro dia por dois motivos:
ResponderExcluirUm - Um amigo mais velho havia me emprestado o DVD já havia algum tempo dizendo que eu tinha de ver o filme.
Dois - Um amigo mais novo, voce, escreveu sobre o filme e disse que tinha sido um marco na sua vida.
Assim, não havia a menor possibilidade de não ve-lo!!!
:-)
filme nervoso, diretor chato. tive pena do mordomo, achei o deslocado, solitario. nao gostei
ResponderExcluirpaulinha
Como não, Paulinha?!
ResponderExcluiro diretor é chato. concordo. mas ele é foda, por se revelar como chato, se asssumir como tal. ele admite que não conseguia montar o filme, pois não tinha realmente se aberto a seu personagem, e sim queria utiliza-lo como objeto para um significado maior.
creio que aprendeu a ama-lo com o Coutinho. e por isso aceitou se humilhar. isso é muito foda!
JMS fez um filme inspirador, belíssimo e perturbador. Acho que Santiago é o melhor documentário do cinema brasileiro.
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