Título Original: Idem
Diretor: Woody Allen
Atores: Woody Allen e Mia Farow
Atores: Woody Allen e Mia Farow
Ano: 1983
País: EUA
Para mim, Zelig é a obra prima de Woody Allen. São muitos motivos para tal, mas creio que o mais importante é uma relação muito forte que tenho com filmes do Cinema do Absurdo, escola que não existe oficialmente mas que muitos seguem como conceito naturais de suas cinematografias. Tecnicamente, muitos filmes são brilhantes. Estéticamente, muitos filmes são perfeitos. Mas os que me tocam precisam ser conceituamente ligado a mim de alguma forma, como é Zelig e sua grande analogia.
O personagem Zelig, que virou referência na psicologia, é o Woody Allen camaleão, transfigurado em todos aqueles com quem passa a ter alguma relação. Falso documentário sobre este personagem, com depoimentos, narração, imagens de arquivo e a perfeita construção de um documentário, mas com seu objeto principal sendo este falso personagem. Na verdade não tão falso assim, só um pouco exagerado em alguns pontos para a formação caricatural da figura Zelig, o homem-camaleão.
O homem que tem personalidade fraca, que não tem forças em suas posições e prefere agradar aqueles à sua volta para ser aceito tem um pouco de Zelig. Já conheci alguns deste tipo por aí. São vendedores de carros, contadores de causos, pescadores, jovens querendo afirmação, machos alfa conquistando suas fêmeas. Mas no fundo todos somos um pouco Zeligs, um pouco camaleão. E os que não são já vão para o outro lado da gangorra, como loucos varridos, fundamentalistas, estúpidos e autistas.
O estranhamento, típico do Cinema do Absurdo, é o ponto de partida para uma reflexão do espectador. Até que o estranhamento passa a ser comum e o comum passa a ser o estranho. Assim acontece com Zelig, quando percebemos que ele nada mais é do que um extremo de uma característica nossa, mas explicitada, exagerada, doentia. A nossa, saudável, parece então um pouco hipócrita. O que estamos fazendo sendo Zeligs todos os dias e não nos dando conta disso?
E o formato escolhido pelo Woody Allen para contar-nos esta história é mais do que adequado. Um falso documentário brinca com a realidade e a ficção e esta linha tênue que o próprio filme tem, um filme meio Zelig, querendo ser algo que na verdade não é. Mas com a distinção de se tratar de uma escolha consciente, de uma aproximação pensada, de uma dança nesta linha, usada ora para informar, ora para confundir, mas sempre para divertir.
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Cena do youtube:
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Próxima semana:
Mestre Coutinho brincando conosco.
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