segunda-feira, 10 de maio de 2010

Paris, Texas

Filme: Paris, Texas
Título Original: Idem
Diretor: Wim Wenders
Atores: Harry Dean Staton, Natassja Kinski, Hunter Carson
Ano: 1984
País: EUA, Alemanha


Vale acrescentar à lista de créditos básicos do filme à inesquecível e irretocável trilha sonora do Ry Cooder (um gênio explorador de novos sons pelo mundo, responsável, ao lado de Wim Wenders, por redescobrir a turma do Buena Vista Social Club).

O deserto e a guitarra de Ry Cooder iniciam o filme em uma sequência magnífica (abaixo no youtube). A primeira vez que tive contato com um deserto, ao vivo, tive uma sensação difícil de explicar. Trata-se de uma paisagem que nos torna ínfimos, inúteis, dispensáveis. A imensidão da natureza e sua beleza nos forçam reflexões. Já a janela do prédio vizinho ao meu não me oferece reflexão alguma, a não ser quando sou obrigado a participar das incríveis discussões familiares, na mesa de jantar.

Mas a impressão inicial, que fica marcada na minha memória, passa no filme. Travis, personagem principal errante do deserto, é resgatado por seu irmão e se vê pronto para enfrentar todo o passado do qual fugiu. Excelentes personagens e atores, o filme tem uma dos diálogos mais fodas da história, de Travis e sua ex-mulher, interpretada por Natassja Kinski, através de uma cabine espelhada.

Há muito sofrimento não dito e mágoas não explícitas nos ambientes aos quais Travis retorna, no entanto ele percebe que o amadurecimento de seu espírito, causado através de muitos espinhos, lhe dá uma nova visão sobre os mesmos fatos. Sua relação, portanto, com tudo, carrega novos valores e novos sentidos, como se tivesse morrido e voltasse a ter vida.

Hoje e, em especial neste fim de semana, uma expressão que foi discutida e que me marcou muito, foi "deserto eloqüente", referência feita por um sábio rabino ao meu falecido e inspirador avô. E é esta a perfeita analogia de Paris, Texas. Disse o rabino: a origem da palavra "deserto", em hebraico, é a mesma da palavra "falar", embora possam parecer distantes de sentido, já que no deserto nada se ouve, a não ser o silêncio. Mas deste silêncio pode-se ouvir muito mais sentido do que falas que nada dizem.



Legenda: download aqui




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Próxima semana:
Ezequiel, 25;17

6 comentários:

  1. Vi, teu texto está maravilhoso. Você foi tão brilhante quanto o rabino que cunhou o termo, ao juntar o filme (que você já tinha escolhido, aliás) ao tema.
    Do seu jeito, uma bela homenagem ao seu avô através da frase que nos inspirou este fim de semana: Deserto eloquente

    Sergio Fisch

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  2. As vezes te vejo como um semeador num campo deserto tentando resgatar alguma coisa que dê um pouco mais de sentido a esta vida ofuscada por tantos grãos de areia sem importância e que tanto nos consomem.
    Belo texto e homenagem ao seu avô.
    Paula

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  3. Paula Damianu Fischquarta-feira, 12 maio, 2010

    Assim como sempre foi com o seu avô ... uma expressão valendo muito mais do que mil palavras.

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  4. Oi Victor,
    Sobre o filme, o que ficou na minha memória foi a beleza do colorido e esta guitarrinha do Ry Cooder.
    Sobre a fala do Rabino, eu copio o texto abaixo que achei na internet, que me pareceu ser pertinente.
    Abração e um beijo do tio carioca.

    "No deserto nós aprendemos a ouvir a voz de Deus. É interessante o fato da palavra deserto, no hebraico ‘midbar’, vir da mesma raiz da palavra ‘dabhar’ – falar. Isto se deve intrinsecamente ao fato de que o deserto é um lugar onde Deus fala e nós nos dispomos a ouvir. Onde Ele nos comunica as Suas mais importantes mensagens, e nós damos ouvidos à sua voz. Passamos a vida inteira em nosso gáudio sem ouvir (ou dar ouvidos) à Sua voz, mas o deserto corrige isso: é o megafone de Deus, a dizer tudo aquilo que sempre relutamos ouvir, e a nos comunicar tudo aquilo que sempre prescindimos saber. Neste lugar solitário, só a voz de Deus é maior do que a voz da solidão, da dor. Se não fosse essa experiência do deserto pela qual passamos poderíamos viver a vida inteira sem ouvir ou conhecer o que Deus tanto deseja nos ensinar – e que só é possível trazendo-nos a essa angustiante escola de sofrimento."

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  5. Pulp Fiction semana que vem?
    Oba, nada como um Tarantino para adoçar a semana.
    :-)
    :-)

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  6. Revi Pulp Fiction ontem.
    Aguardo seu texto.
    :-)

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