Nada de listas americanas, nada de renomados institutos ou revistas, nada de cahier du cinema, nada de escola cinematográfica.
Uma lista de 100 filmes tão única quanto eu mesmo sou, totalmente individual e subjetiva.
Marco do cinema recente brasileiro, por ser uma obra simples, original, autoral, universal e muito bela. Boa, bonita e barata.
Um filme que tem a força de um bom roteiro e um ator que tem se tornado o meu predileto do cinema nacional: João Miguel. Ao lado de Peter Ketnath, formam uma dupla para debater, refletir, conversar.
Assim andam pelo nordeste branco da fotografia de Mauro Pinheiro. E pelos idos anos 40, época da segunda guerra mundial. O alemão, com seu trabalho de viajar o Brasil, apresentando o cinema e vendendo aspirinas.
De universos totalmente distintos, o alemão e o nordestino poderiam dar uma dessas duplas cômicas de filmes americanos. Mas o Marcelo Gomes prefere apostar na leveza e na consciência de se fazer cinema.
Mais ainda, cria um novo estilo cinematográfico brasileiro, juntamente com Karin Anouz, Sergio Machado e Claudio Assis. Um novo cinema nordestino.
De certa forma, A Estrada da Vida é uma comédia romântica no estilo de Fellini, entre os memoráveis personagens Zampano e Gelsomina ( e os brilhantes atores Anthony Quinn e Giulietta Masina).
Mas muitas coisas o tornam especial. Em primeiro lugar, é impossível descrever a beleza desses personagens, caricatos e naturalistas. Gelsomina tem um sorriso e uma tristeza que se somam de uma maneira tão misteriosa, tem uma ingenuidade e uma sinceridade que se complementam. Ela é, por si só, uma obra prima.
Zampano já é o homem bruto, sem escrúpulos, que trata sua mulher como um objeto. Mas quando a perde, sente uma dor que o transforma de tal maneira que sentimos a profundeza de sua dor.
A Estrada é uma mistura de estilos e referências, ora exagerado (ou feliniano), ora realista, como um filme de Visconti. Nessa estrada, como em quase todos os filmes que seguem uma estrada, personagens aparecem e somem, pegam carona e descem. Gelsomina é uma delas, que sobe na carroceria de Zampano no início do filme. Depois desce e some. Mas a música (ah, a música!) de Nino Rota, fica para sempre. Assim como as sensações que estes eternos personagens nos deixam.
A primeira cena do filme já me conquistou. Justamente por não ter nada de especial. As coisas estavam ali como são. Já entendemos, assim, que se trata de uma história que estamos pegando do meio, que aqueles personagens viveram até ali. Pegaremos uma breve carona e depois partiremos.
E o personagem com o qual pegaremos essa carona é vivido pelo mestre Jack Nicholson. Presente recentemente neste blog em O Iluminado e, antes disso, em Estranho no Ninho. Embora alguns frequentadores deste boteco não concordem com as críticas que fiz a suas recentes aparições, é claro que ele é brilhante, para mim. Chega próximo do mestre Mastroianni.
David Locke é um jornalista, desses que viajam o mundo. Mas está insatisfeito com sua vida, em meio a uma viagem que faz na áfrica. Surge quase que repentinamente uma oportunidade de se fazer passar por um outro homem, que morre no hotel em que está hospedado. Diante da precariedade africana, é fácil para que ele forge essa troca de identidade. A temática parece de um filme de Hitchcock, mas os tempos, o clima e a reflexão colocam as marcas do Antonioni.
Ele conhece a personagem de Maria Schneider, livre, sem identidade, sem nome, sem cobranças ou perguntas, que embarca com ele em sua viagem de se passar por este outro homem. Passam. Por lugares e conversas. Ao perceber que sua nova vida corre risco, David pede à garota que vá embora. Que se encontram em outro momento.
Vemos, então, na sequência final, uma obra prima. Um plano que passeia pelo quarto e observa a movimentação de fora, atravessa as grades da janela e continua a observar. Está aqui abaixo, mas só pode ser assistida por quem já conhece o filme e quer relembrar este momento maravilhoso.
Como já disse algumas vezes neste blog, sou fã do cinema italiano. Mas há, também no Brasil, alguns filmes que andam pelas mesmas estradas. Ou, no mínimo, semelhantes.
Neste mês, de setembro, este blog mostrará dois filmes italianos e dois brasileiros que, para completar, se assemelham por serem "road movies". Ou seja, são filmados em estradas, rodando de cidade em cidade.