segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Muito Além do Cidadão Kane


Filme: Muito Além do Cidadão Kane
Título Original: Beyond Citizen Kane
Diretor: Simon Hartog
Ano: 1993
País: Inglaterra, Brasil

Documentário

Este documentário, produzido para a rede britânica Channel 4, é muito representativo do que temos hoje como país. E do que teremos daqui em diante. Famoso por ter sido praoibido pela Globo de circular por aí, hoje já não é muito difícil de encontrá-lo. Será que serei perseguido? Meu blog vai sobreviver às pressões? Já adianto que por uma considerável grana eu tiro este post, então aproveitem para ver enquanto está no ar.

Muito se faz por poder e por dinheiro. Alguns dizem que o sexo entra nesta conta confusa. E não se trata de exclusividade tupiniquim, já que a referência aqui é justamente o Kane da semana passada. Mas os coronéis midiáticos brasileiros vão muito além, como diz o título. A relação promíscua entre mídia e poder, ou ela como o quarto e mais forte poder, é explicitada neste incrível material.

Essa relação explica muito, se não tudo, do que é o Brasil hoje. É claro que a Globo está aos poucos perdendo seu poder e a rede de internet é absolutamente genial ao permitir que o conteúdo seja gerado por seus usuários, como neste blog, com seus trinta e poucos leitores. Por ora o google não mostrou dentes afiados, mas se botar as mangas de fora estamos fritos... qualquer monopólio é danoso. Qualquer!

E eu me revolto assistindo esse filme! Me revolto porque consigo ver um outro país que teria sido possível. E que é possível! Me revolta o tempo perdido que esses poderes paralelos ajudaram a perpetuar. Me revolta o jogo e a dança que eles conseguem fazer com que todos brinquem. Há, no filme, o clássico exemplo entre o Lula e o Collor, manipulado pela Globo. As eleições manipuladas pela Globo. O impeachment manipulado pela Globo. As diretas já esquecidas pela Globo. E depois, quando o Lula chega ao poder, apesar da Globo, tornam-se amigos, pois "se hay gobierno soy a favor" pensam os Marinho.

E a reflexão que me atinge é: o poder pelo que? pelo poder? por fama? por dinheiro? por sexo? Por que não o poder pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária? Quando penso no país que a Globo poderia ter ajudado a criar e vejo o país que ela conseguiu fazer, tenho ódio, nojo e me recuso a assistir seus jornais e novelas.

Este blog, além de um aprendizado cinematográfico, traz um ensinamento político, do qual este filme e The Corporation são essenciais. Este mês foi assim. Vamos relaxar um pouco agora.

Torrent: download aqui


Cena do youtube:


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Próxima semana:
O Homem-Camaleão

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cidadão Kane

Filme: Cidadão Kane
Título Original: Citizen Kane
Diretor: Orson Welles
Ator: Orson Welles
Ano: 1941
País: EUA


Campeão de muitas listas de cinema, especialmente se americanas, Cidadão Kane é o clássico dos clássicos. E assim pode parecer que se trata de um filme chato. Muito pelo contrário. Quem viu sabe que vale a pena. Agora, por que é tão especial? Para ser bem sincero, não sei dizer e vou tentar dar minha opinião aqui.

Em primeiro lugar está o enredo. A história em busca de Rosebud, última palavra que diz antes de morrer, acaba contando os principais momentos de sua vida. Um homem que buscou, ao que resumem os depoimentos, ser amado, sem nunca ter amado ninguém. Assim cria seu império de jornais, se envolve em política sem ter sido político, tem dois casamentos que acabam sem amor (adoro sequência de cafés da manhã resumindo o seu primeiro casamento). Há uma relação histórica com uma espécie de Roberto Marinho americano, que quis proibir a exibição do filme e representa muito para os Estado s Unidos. Como todas as listas saem de lá, com exceção de uma muito interessante francesa que vi outro dia, Cidadão Kane sempre aparece entre os primeiros.

Esta relação do personagem com a mídia é o que coloca este filme neste mês, nesta temática. A relação entre mídia e política, muito mais comum do que deveria, é muito promíscua. Kane inicia seu jornal denunciando escândalos e representando os não representados. Em excelente discussão com seu tutor financeiro, por conta de uma denúncia que faz em seu jornal, de um monopólio do qual é também socio financeiro, ele define este seu duplo papel, entre o investidor e o denunciador. Mas depois de estabelecido e criado seu império midiático, Kane transforma seus pensamentos em realidade através dos meios que dispõe. Não muito diferente do que vemos no Maranhão, ou ando vendo por algumas cidades do interior paulista, ou ainda na utilzação das máquinas do governo para que candidatos se reelejam e se perpetuem no poder.

O outro fator determinante para a importância de Cidadão Kane é a linguagem cinematográfica. os cortes ainda são tradicionais, mas os enquadramentos são cheios de conceitos e inteligência. Não poderia ser diferente, pois trata-se de um filme crítico ao poder da comunicação, sem limites de interesse. E muitas vezes esquecemos o poder da imagem. As sutilezas de escolha de ângulos, sobreposições, preenchimento do quadro e composição podem transformar uma figura pública em um pessoa imponente, solitária, indecisa, amigável, etc. E as escolhas de Orson Welles são cheias de simbolismos e de nuâncias subliminares. Ele, com ator, parece muitas vezes no filme como Marlon Brando em O Poderoso Chefão, pois a câmera o pega de baixo para cima, grande, imponente, dominador. Vale lembrar que nesta época, também, o poder da imagem era muito bem (para o mau) utilizada para engrandecer e qualificar o líder nazista, Hitler.



Torrent: download aqui
(já vem com legenda)

Cena do youtube (um trailer interessante, sem cenas do filme):


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Próxima semana:
O Kane tupiniquim Roberto Marinho e sua trupe.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Entreatos

Filme: Entreatos
Título Original: Idem
Diretores: João Moreira Salles
Ano: 2004
País: Brasil
Documentário

Eu estou hoje fazendo um trabalho muito parecido com o de João Moreira Salles no filme Entreatos. Eu estou filmando a campanha da Marina Silva e do Ricardo Young, sem a intenção de fazer um documentário, mas mostrando muitas cenas de bastidores. Não sei se vale um documentário, porque já existe este, que não precisa ser refeito, independentemente do candidato.

Primeiro vamos aos fatos cinematográficos, depois aos políticos. O cinema documental observador que o Coutinho faz como ninguém é um grande trabalho de montagem sensível. Já no início do filme (cena do youtube) ele diz a que veio e explica seu documentário. O registro de tudo, desde os bastidores até os grandes comícios e eventos, faz com que ele opte por ficar mais nos bastidores, é claro.

Em uma campanha política não vemos nenhum ser humano e sim um monte de marionetes montadas de acordo com os interesses das pesquisas. Costumo dizer que as pesquisas indicam, na verdade, tudo aquilo que os políticos devem ser. Se elas indicam que a grande maioria do povo brasileiro gosta de homens de barba, os candidatos deixam a barba, se o povo crê que a amazonia deve ser devastada, pegam em suas armas, mas se querem abençoar as florestas, os candidatos tiram do bolso seus terços e cruzes. Até por isso os que se sobressaem são os mais espontâneos, como o próprio Lula. O que me agrada no filme é ver o político real, o ser humano real. O que não me agrada (mas me agrada cinematograficamente) é ver o político montado, criado, moldado. Duda Mendonça é o criador do Lula aqui. No debate, temos uma das melhores cenas do filme. Lula na TV, a equipe de pesquisa com um grupo anotando os comentário, a menina passa um rádio pedindo que o Lula seja mais didático e no bloco seguinte lá está o candidato seguindo os conselhos de seus marketeiros.

Desta forma, fazendo uma pequena comparação com as eleições que teremos neste ano, quem são os candidatos e minhas opiniões sobre eles: Serra está desesperado para ser eleito porque é, provavelmente, sua última chance. Assim, sorri, virou simpático com o CQC, conta piada, critica o Lula? Jamais, o cara é adorado. A Dilma é uma criação do Lula, evidentemente. Não tem o menor carisma e sua única bandeira é ser uma continuação do projeto. Aliás, todos que votam nela tem esse mesmo discurso, de que estão votando em Lula. Ainda não conheci quem votasse nela por convicção na própria. E Marina é autêntica, isso não se pode tirar dela. Ela é um ser humano iluminado e representa um projeto de país muito superior aos outros. Não sei se conseguirá passar sua mensagem, mas ela é a representação da esperança, o que é o Lula em 2002 e neste filme, Entreatos.

O lado humano é essencial que seja compreendido, porque toda essa maquiagem política faz com que as pessoas percam o interesse por qualquer tema que envolva política. Eu mesmo tenho muita dificuldade para engolir as chatices burocráticas e partidárias. O que é lindo é ver uma mobilização natural e espontânea, que acontece com a Marina como aconteceu com o Obama. O Brasil é um país incrível, com um potencial maravilhoso, mas parece que há um erro de percepção nas eleições. E aí eu viajaria para o meu amigo William Blake e suas portas da percepção. Mas sinto que estou ficando disperso.

Volto para finalizar. A política, ou melhor, a solução de problemas de um conjunto da sociedade, é algo que me move, me comove e me faz querer trabalhar muito por esse país. Já a política, ou melhor, as alianças por tempo de televisão, os egos, os jogos de interesse, me fazem ter nauseas e ânsia de vômito. E, no final, entre tantos enjôos e desejos, entre pessoas se espremendo e se abraçando,  entre os sonhos e entre os atos, não consigo parar de ter esperança. Preciso tomar algum remédio, talvez.


Torrent: download aqui

Cena do youtube:


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Próxima semana:
Rosebud.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A Corporação

Filme: A Corporação
Título Original: The Corporation
Diretores: Mark Ashbar e Jennifer Abbott
Ano: 2003
País: Canadá, EUA


A escola brasileira de documentários ensina que a melhor forma de tratar um tema complexo e enorme, como a pobreza, a desigualdade de renda, a morte, a vida, o capitalismo ou as corporações, seria encontrar uma pequena história que possa ser universalizado. Desta forma, ao fazer um documentário sobre o Brasil, devo fazer um recorte minúsculo, de uma cidade, de um bairro, de uma casa. Como falei em Ser e Ter e Pro Dia Nascer Feliz, são documentários intimistas que fazem um recorte local para uma interpretação universal.

Já em A Corporação a ambição é maior. Busca-se explicar todo o sistema financeiro ocidental, ao qual estamos completamente entregues, com um recorte das corporações (que não é um corte pequeno). É evidente que, mesmo o maior dos documentários e o mais ambicioso terá algum recorte, alguma escolha de personagens, de histórias, de pontos de vista. Mas, se este documentário fosse feito seguindo os ensinamentos da escola brasileira, provavelmente a investigação seria feita em uma cidade pobre do Nordeste, com algum exemplo que aos poucos se torna evidente das injustiças sociais geradas por uma grande companhia do petróleo.

Enfim, voltando ao filme. Ele é extremamente competente em sua grande ambição. E tem muitos méritos nisso, pois, apesar da crítica áspera que faz ao sistema econômico, consegue abrir espaço para que todos os lados da questão se manifestem. Assim, não temos apenas os velhos críticos falando (como Noam Chomsky e Naomi Klein), mas também presidentes de grandes companhias, operadores do mercado de ações e inclusive uma coordenadora da indústria de brinquedos, que se coloca em posição complicada, ao elogiar os esforços de sua indústria para conquistar mercados, citando cifras bilionárias que gastam com publicidade para crianças. Em paralelo, uma outra mulher, crítica a esta mesma indústria, cita os mesmos dados para mostrar a impossibilidade dos pais comuns lutarem contra a propaganda que entra em suas casas.

A tese do filme é que uma empresa tem todas as características que damos a um psicopata social, se a tratássemos como uma pessoa. Nem mesmo os presidentes das grandes corporações concordam com as medidas que devem tomar como seus dirigentes. E por que as tomam? Porque quem manda é o mercado, são as ações e os acionistas. Na prática, o bom e velho dinheiro é o chefe.

Eu penso que esta realidade começa a mudar, aos poucos. A liberdade total entregue aos mercados gerou a crise dos EUA, onde foram gastos recursos suficientes para resolver o problema da fome, da deigualdade, das injustiças, do preconceito, das guerras e de tantos outros que podemos pensar aqui. Isto é, para não dizer nada mais, totalmente absurdo e intolerável. Ou, talvez, uma estupidez muito estúpida.

Existem outros modelos de desnvolvimento? Existem. Por que não mudamos para eles? Porque, infelizmente, nós somos muito lentos para promover mudanças estruturais. Temos que começar a falar desses modelos, para que alguns jovens cresçam com estas ideias e em algum momento de suas vidas possam aplicá-las ou ensiná-las. E para que elas possam ser aplicadas, aqueles que são muito velhos para compreendê-las devem morrer. De morte morrida, é bom deixar claro. Não estou propondo o assassinato das mentes estúpidas. Aliás, alguns propõe estes assassinatos e conseguem fazer com que as mudanças aconteçam mais rapidamente. Mas a democracia, sagrada, faz com que os processos lentos fiquem ainda mais lentos. E difíceis. Paciência.



Torrent: download aqui
Legenda: download aqui


Cena do youtube:
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Próxima semana:
Os bastidores de uma campanha política.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Show de Truman


Filme: Show de Truman
Título Original: The Truman Show
Diretor: Peter Weir
Atores: Jim Carey, Ed Harris, Laura Linney
Ano: 1998
País: EUA


Tenho uma relação muito pessoal com esta incompreendida obra prima. Talvez não tanto incompreendida, mas com certeza menosprezada. Só deu grande valor, naquela clássica tabela de estrelas do Guia da Folha, a Suzana Amaral. Desde então olho com atenção especial os seus comentários e preferências e são poucas as vezes que discordamos de algum filme.

Outro fator importante foi um olhar atento sobre o Jim Carey, que era um ator mal falado e criticado (com razão, creio) por suas comédias exageradas. Com este filme eu pensei "esse cara é foda". E fui feliz, pois são obras primas também alguns filmes que fez depois, como "O Mundo de Andy" e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças".

O humor de O Show de Truman é excepcional, criando uma grande analogia crítica. Um roteiro muito bem escrito no início da febre de reality shows, com uma ideia simples que cria um estilo que muito me agrada: uma espécie de cinema do absurdo. (Aliás, esta é uma denominação que sempre quero usar, tanto para descrever os filmes que gosto como os que faço, mas não existe um nome muito adequado ou oficial para isso)

Truman (homem-verdade), é um cara que vive em um mundo criado inteiramente pela TV, em um programa que fica no ar 24 horas por dia, mostrando simplesmente sua vida. A partir daí vemos muitas piadas feitas com este princípio, os bastidores que aparecem sem querer, as dificuldades que Truman tem de sair dali, os intrusos que já participaram do programa, a publicidade fake, que serve de advertising e por aí vai. Mas não há nada mais incrível do que o final do filme, quando Truman consegue orquestrar sua fuga em um barco atravessando o mar, tem um diálogo excepcional com seu criador e acaba batendo no final do cenário, pintado de céu. A porta de "exit" ali é indescritível.

Aí vem a discussão moral e conceitual do filme, um tanto quanto óbvia, ao criticar a sociedade da vigilância e pretensa liberdade, palavra que os americanos adoram. Estive pensando nesses dias que o slogan americano "this is a free country", que somos obrigados a ouvir em tantos filmes, prejudica em muitos aspectos as possibilidade de construção de uma sociedade mais próspera. A liberdade é tanta que vale tudo. Quem acaba mandando são os mercados, pois se não há regras, que vença o mais forte. Mas esta já é uma discussão mais filosófica que não creio que cabe aqui.


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Cena do youtube (coloquei o trailer, que vale a pena):


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Próxima semana:
Uma empresa pode ser psicopata?

domingo, 1 de agosto de 2010

Agosto - A película do Real

O "real" será o tema dos próximos meses, desde agosto até outubro. Após os últimos dois documentários do mês de julho, passearemos por estes temas.

Neste primeiro mês, que chamei de "A película do Real", os filmes são de temas políticos e sociais e passam sempre muito perto da relação da mídia, do cinema, da TV, dos reality shows com a sociedade. Isto não significa que serão apenas filmes pesados e documentais. Dentro deste tema abrangente, encontrei filmes muito diversos. Uma excelente comédia, um clássico do cinema, um documentário canadense e dois documentários brasileiros.

Minha proposta é que a reflexão de agosto traga ao final do mês um amplo repertório político de como funciona a sociedade e qual o papel da mídia neste processo. Mas é sempre bom lembrar como funcionou o meu processo de escolha de temas. Da forma como está indo, pode parecer que escolhi os temas e os filmes a partir deles. Mas foi o inverso. Antes fiz a lista e depois os separei por temáticas interessantes, tentando criar uma linha de evolução, começando por filmes mais clássicos, premiados, conhecidos e aos poucos ir intorduzindo alguns mais inusitados. Introduzi a educação no tema dos premiados e depois o documentário no tema da educação. E agora discutirei o real, o irreal e o mais que real...
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