segunda-feira, 28 de junho de 2010

Elefante

Filme: Elefante
Título Original: Elephant
Diretor: Gus Van Sant
Atores: John Robinson, Alex Frost, Nathan Tyson
Ano: 2003
País: Estados Unidos


Três cegos apalpam um elefante para tentar compreendê-lo. Um apalpa a tromba, outro a barriga e outro o rabo. Cada um ao seu modo compreende o animal de maneira diferente. Os três ficam com uma impressão do elefante sem compreender o que ele é em sua completude, algo muito fácil para quem enxerga.


E dizem que daí vem o título do filme, Elefante. Assim sendo entra, sem dúvida, na lista dos melhores títulos de filmes. Pois trata-se de um diretor que procura enxergar o todo através de uma das partes, mas não se cega em definir sua visao como sendo a única verdade.


O assunto é complicado: jovens em uma escola americana que resolvem atirar em colegas e professores e se matarem depois. Fato real que também inspirou o filme de Michael Moore, Tiros em Columbine, e que é bastante recorrente em escolas americanas. Por que? Não faço ideia. Michael Moore tenta explicar, já Gus Vant Sant tenta escutar, observar, analisar.


O filme faz um recorte em alguns dos jovens que ali estudam e permite que eles mostrem suas vidas. A escolha formal acaba sendo natural pelos longos e lindos planos sequencias. As câmeras acompanham os garotos com sensibilidade de lhes permitirem espaço, naturalidade, tempo. Em muitos filmes do Gus Vant Sant há essa liberdade temporal e espacial.


Me agrada o fato do filme não impor sua tese, sua opinião. Não julga ninguém, seja o menino popular ou o nerd (essas divisões que acbam realmente acontecendo nas escolas americanas). O filme é puramente reflexivo. Assim, são os pequenos detalhes que fazem a diferença, um pequeno gesto, uma palavra, um jeito de falar e de olhar.


Vou fazer uma interpretação arriscada de um trecho que particularmente me agrada. Em meio ao desespero na escola, quando a chacina já começou e o filme caminha para seu fim, somos apresentados a um novo personagem que dura apenas uma pequena sequência. Um jovem negro, acompanhado pela câmera, anda calmamente pelos corredores da escola, enquanto todos gritam e correm. Ele tem a postura do herói, que vem para salvar e mudar a história. Mas quando enfim está se aproximando dos matadores é percebido. Recebe um tiro e morre. Fim de sua participação. Aí talvez haja certa ironia, certo humor, de que não há heróis, de que as pessoas realmente morrem por muito pouco.


E fica a pergunta do por que. Por que isso acontece nas escolas americanas?
Como são as outras escolas do mundo? Isto seria um bom tema para os filmes do próximo mês, não?


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Cena do Youtube



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Próxima semana:
Escolas são zoológicos interessantes.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Arquivo de olhos

Estes são os olhos de Sergei Eisenstein, diretor do Encouraçado Potemkin, Outubro, A Greve entre tantos outros clássicos do cinema construtivista. Usei estes olhos no mês de abril.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Barton Fink


Filme: Barton Fink
Título Original: Barton Fink
Diretor: Irmãos Coen
Atores: John Turturro, John Goodman, Judy Davis
Ano: 1991
País: Estados Unidos


Eu sou grande fã dos Irmãos Coen. Talvez, ao lado do Jim Jarmusch, é a cinematografia que mais conheço, do início aos filmes mais recentes. Fazem comédias de grande estilo. Outro dia minha mãe me mostrou uma entrevista com o filósofo Gilles Deleuze, na qual ele dizia que achava muito engraçados autores como Kafka, Becket e companhia. Creio que temos um gosto de humor semelhante e que, portanto, os filmes dos Irmãos Coen também agradariam ao filósofo.

Tenho reparado, aliás, que grande parte dos filmes que tenho escolhido trazem bons toques de humor, mesmo não sendo eles tão explícitos. E os filmes dessa dupla têm, em geral, grande mérito no tipo de humor que fazem. São mestres na criação de personagens caricatos, com trejeitos esquisitos, com manias, com toques. A dupla de atores principais de Barton Fink é genial: John Torturro e John Goodman, muito presente em outros filmes deles.

Barton Fink é um autor teatral de sucesso que é convidado por Hollywood para escrever um roteiro. Mas ele quer, a todo custo, fugir do glamour do cinema, fica em um hotel caindo aos pedaços, encontra pessoas podres, fétidas. E por que a podridão humana atrai os roteiristas? Por que é no sofrimento e na pobreza que estão as melhores histórias?

A resposta pode parecer meio óbvia, mas vale a reflexão: conflito. A base da dramaturgia é o conflito e por isso eu não consigo visualizar uma história sem embates, sem problemas. A dificuldade de Barton Fink é conseguir criar uma história, é o conflito mobilizador da trama. E em toda e qualquer história, conto de fadas, novela das oito, big brother ou comédia romântica há um conflito. Muitas pessoas dizem que não vão ao cinema para ver sofrimento, que querem se divertir e coisas do gênero. Não concordo com esse pensamento. Em primeiro lugar, como mostra bem este filme, o sofrimento pode ser divertido e leve.

Em segundo lugar, creio que o cinema tem uma função essencial de reflexão sobre a vida e o mundo. Ao final dos cem filmes que colocarei aqui, teremos um excelente painel de uma visão de mundo (ou várias, espero) e um repertório fantástico que nos serve cotidianamente. Seja ao falar sobre o tempo ou em uma discussão filosófica de boteco com os amigos, ali estão nosso repertório, que não pode ser raso. Não deve ser. Não gostaria que fosse.

E o que diferencia a boa dramaturgia, o bom conflito de um ruim. Creio que aqui trata-se de uma sensação pessoal de cada um, que é criada a partir de um repertório. Quanto maior o repertório, mais profunda será a necessidade de reflexão. E assim descartaremos novelas e big brothers e o horário nobre da tv transmitirá Barton Fink e as listas das grandes obras já produzidas.

Não sou contra a cultura de massa, desde que ela seja a que eu goste. Se bem que é provável que, se a novela virar underground, eu renego os filmes e faço um blog de novelas...


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Cena no YouTube
http://www.youtube.com/watch?v=ZGkVBg6k9Rk&feature=related


Próxima semana:
Um jovem americano é um ser muito complexo de compreender.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Segredos e Mentiras

Filme: Segredos e Mentiras
Título Original: Secrets and Lies
Diretor: Mike Leigh
Atores: Brenda Blethyn, Timothy Spall, Marianne Jean-Baptiste
Ano: 1996
País: Inglaterra



A combinação do cineasta Mike Leigh e da atriz Brenda Blethyn cria algumas das melhores pérolas do cinema atual. Os filmes deste diretor inglês trazem marcas muito características e interessantes. Um humor negro de ótima qualidade, profundidade intensa de excelentes personagens, diálogos muito verdadeiros.

A história que conta o Mike Leigh traz sempre um mundo muito próprio de um povo britânico mais pobre, mais sofrido, mais traumatizado e cheio de problemas. Não há muito de um cinema inovador pela linguagem, e sim pelo conteúdo. Como consegue chegar tão longe?

Na ocasião de Segredos e Mentiras, ouvi falar dos métodos de preparação de atores que foram utilizados no filme. Entraram nos personagens e viveram suas vidas durante alguns meses. Mais do que ensaios, o que Mike Leigh traz são vivencias. E fica totalmente explícita a realidade na tela. Em especial através da monstruosa atriz Brenda Blethyn.

A temática também é das minhas: famílias desconstruídas. Adoro relações familiares e as vejo como ótimo pano pra manga. Eu não tenho habilidades descritivas suficientes para exaltar a maravilhoso sutileza e os pequenos detalhes das relações deste filme. Brenda é uma mulher solitária e dramática que não consegue ter proximidade alguma com sua filha. Seu irmão é um fotógrafo (o que rende excepcionais aparições de personagens secundários, como clientes que querem tirar fotografias - vale ver a seqüência no youtube). É um cara mais tranquilo que gostaria de ter relações mais próximas do que as que tem. E a terceira personagem é uma filha negra que Brenda teve e deu para adoção e que agora buscará encontrá-la. A partir daí está criada a teia de relações necessária.

Há o diálogo entre filha adotada e mãe biológica que é sensacional e que eu tinha colocado aqui na cena do youtube. Mas mudei a cena para uma parte que aparecem os personagens sendo fotografados, mais simpático para uma cena de youtube.

Um filme um pouco mais famoso da dupla Leigh e Blethyn é aquele O Barato de Grace. E recomendo também Simplesmente Feliz e Agora ou Nunca (este com o mesmo ator que faz o irmão, Timothy Spall, excelente também). Todos de Mike Leigh, que é outro selo de qualidade, além da palma de ouro de Cannes.

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Cena do youtube:



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Próxima semana:
É necessário conhecer a podridão humana para escreve-la.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Foto de março

Ouvindo pedidos dos nossos internautas, vou deixar arquivos das fotos dos olhos usadas (que vão mudando de mês em mês). Começando pela primeira foto de uma de minhas musas (e do Godard), Anna Karina.







segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Quarto do Filho


Filme: O Quarto do Filho
Título Original: La Stanza del Figlio
Diretor: Nanni Moretti
Atores: Nanni Moretti, Laura Morante, Jasmine Trinca, Giusepe Sanfelice
Ano: 2001
País: Itália





Respire fundo antes de mergulhar neste filme. Uma das maiores rupturas que podem ser imaginadas é a perda do filho. A morte, quando já há muito esperada e consentida, quando da doença ou velhice, pode ser compreendida e aceita. Mas quando aparece do nada, de repente, sem pedir licença, o tombo é inevitável. E meu pai sempre diz que a perda de um filho é a pior que se pode ter, uma quebra da concepção natural, o ponto fora da curva. E é disto que trata este filme, de mim e de meu pai, de como ele reagiria caso eu... Bom, já o vejo batendo na madeira três vezes.

Nanni Moretti dirige e atua, sendo o pai psicólogo que perde o filho, Andrea. Antes disso, no entanto, vemos como funciona a dinâmica da família, de classe média, unida, os pais e um casal de filhos. Clássicos e típicos, o pai tentando ser um bom pai, ciúmes da filha, preocupado com o filho. A relação já era por si só um espelho de minha família, mas entra fundo em minha alma uma cena simples, na qual o garoto perde uma partida de tênis em um campeonato sem importância. Ele não liga muito, mas o pai acha que ele perdeu de propósito, porque podia ganhar. Durante o jogo fica ansioso, angustiado, é muito mais competitivo que o próprio filho que está jogando. Começa a reclamar que ele se distrai, que parte para outro mundo no meio do jogo e discute com ele após a partida. Pai: Você perdeu de propósito, joga por jogar. A graça é jogar para vencer, não é? Não, ele e eu respondemos.

E aí vem a ruptura. Andrea morre em um acidente, a vida como um sopro, o pai se culpa, não conseguem trabalhar, a relação na família se desestabiliza e por aí vai. Mas a profundidade dos personagens e o clima (como sempre) do filme, são essenciais para seu desenvolvimento. Pouco depois do lançamento deste filme saiu uma cópia americana de mesmo estilo, a mesma história, até alguns planos iguais, chamado "Entre Quatro Paredes". Uma merda que até concorreu a alguns Oscars. Vale ver os dois para saber diferenciar climas de filmes, o americano sendo dramático, exagerado, estúpido. Já o italiano é pesado mas sensível, leve toque de humor.

Vale também salientar o lado bem humorado que geralmente trazem filmes com psicólogos e suas relações com seus pacientes, como há em vários filmes do Woody Allen e um filme que falarei mais para frente, "Felicidade".


Mas como é dura, a partida de Andrea.



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Cena do youtube:



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Próxima semana:
Quem curte humor negro-familiar-britânico?

terça-feira, 1 de junho de 2010

Junho - Mais Cannes

Calma, ainda não acabou a sessão Cannes. Ainda mais agora, que acaba de terminar o festival deste ano e o filme vencedor parece bem interessante. Um tailandês, com uma fábula poética, pelo que dizem. Eis a lista dos filmes que valerão a pena ver esse ano (no mínimo): aqui.

Entre os mais experimentais, figuram as estrelas do cinema alternativo, como Kiarostami, Juliette Binoche (ganhou o prêmio de atriz) e Javier Bardem (ganhou o de ator).

O selo Palma de Ouro ainda me encantou mais cinco vezes, sendo que neste mês caberão mais quatro e um servirá de gancho para o mês que vem.

Agora os filmes já não são tão badalados e clássicos como os anteriores. Mesmo assim, dos quatro filmes de junho, dois são americanos. Os outros dois são italiano e inglês. Relativamente mais novos, todos tratam de temas pesados, ora com um tom mais bem humorado, ora com tom mais sério.

Entre os diretores, as marcas são claras, com exceção do italiano Nanni Moretti, cujo filme apresentarei na semana que vem e cuja obra não conheço muito bem. Vi apenas dois outros filmes dele, que nada me impressionaram. Já o inglês Mike Leigh e os americanos Gus Van Sant e os irmãos Coen têm moral para perder a mão de vez em quando.

Os filmes falam de morte, de relações familiares complicadas e vão fundo ao destrinchar os ambientes que estudam. A vantagem de falar deles é que são obras-primas, sem dúvida nenhuma.
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