segunda-feira, 27 de junho de 2011

Irreversível

Filme: Irreversível
Título Original: Irréversible
Diretor: Gaspar Noé
Atores: Monica Belucci, Vincent Cassel, Albert Dupontel
Ano: 2002
País: França


Algumas coisas não tem volta, são irreversíveis. Uma mulher grávida, quando estuprada com violência até perder o filho, é uma delas. O ódio desencadeado de tal situação é o que começa este filme, de maneira reversível. A linguagem é, portanto, o oposto da situação exposta pelo diretor Gaspar Noe, pois pode narrar no formato que quiser.

No filme Violência Gratuita, de Haneke, há uma cena excelente, que me remete ao mesmo assunto. Dois jovens torturam mentalmente uma família, mas em um momento de descuido a mulher consegue pegar uma arma e atirar em um deles. Desesperado e revoltado, o outro procura um controle e volta a cena, para poder agir de maneira diferente.

Já aqui há uma estrutura um pouco semelhante com a de Amnésia. Podemos dividir o filme em cinco partes. A primeira que assistimos é a última, cronologicamente. Cada parte, cada violência, é justificada na cena seguinte, com os fatos que a antecederam. Tudo gira em torno do conceito central, inclusive a câmera, que é esta palavra que eu gosto: irreversível.

Assim, vemos no final o que seria o começo da história, uma mulher, em um jardim, crianças correndo, água espirrada, a gravidez. Felicidade. Digna de uma campanha publicitária de banco. E, no entanto, como conhecemos a irreversibilidade das coisas, nos atinge mais do que a violência sanguinária, mais do que a violência que agride, como há na sequência inicial. A cena do estupro nos agride de uma maneira intensa, de retorcer nosso estômago, mas um personagem que aparece no fundo, no meio da cena, e resolve não agir, é de uma violência ainda mais cruel. Inteligente, inclusive.

Em meio a essa agressividade, há uma beldade, que é a Monica Bellucci. Creio que talvez seja o único filme que ela fez que preste. Mas que beleza tem essa mulher, definitivamente uma musa!


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Cena do youtube:


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Próxima semana:
Os doze trabalhos de Joel e Ethan.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Caché

Filme: Caché
Título Original: Idem
Diretor: Michael Haneke
Atores: Daniel Auteil, Juliette Binoche, Maurice Benichou
Ano: 2005
País: França




Haneke é um dos diretores atuais que mais gosto. Pelo seu modo duro de filmar, por sua ousadia. É daquele tipo de filme que gosta de provocar o espectador. Quanto tempo eles aguentam uma primeira cena parada em um plano que nada acontece? E assim começa Caché. E teve gente que saiu do cinema nesta primeira cena, o que, para mim, já dá uma moral extra ao filme. Pode ser que tenham errado de sala ou algo do gênero, mas o filme precisa incomodar alguém, pelo menos um.

Depois de dez minutos de uma simples cena da fachada de uma casa, a imagem começa a ser acelerada. Percebemos então que um casal, vivido por Daniel Auteil e Juliette Binoche, está assistindo ao vídeo. Receberam aquela fita pelo correio e a gravação mostra justamente sua casa. Veja que violência cruel e silenciosa! Você filma a casa de alguém e deixa a fita na porta, para dar o recado de que você está ali, observando.

Este é o começo de uma tensão que surge na vida do casal francês de classe média. Cada vez um novo sinal surge, uma nova mensagem e cada vez mais eles vivem com medo, sem compreender de onde vem as ameaças. Ambos criam internamente suas teorias, voltam ao passado, mas não revelam as cartas, não jogam abertamente. O terrorista aos poucos deixa pistas de quem ele é, alertando que conhece muito intimamente o passado do casal.

Não vou revelar aqui tudo que acontece, no entanto é interessante fazer uma análise mais analógica da obra. Como acabo de voltar da França, sei que a questão da imigração nesses países europeus é tensa, assim como o filme, uma tensão meio silenciosa. E em muitos filmes, especialmente franceses, essa questão vem aparecendo. Não importa se proposital ou não, mas é possível entender que há uma relação lógica entre um medo dessa classe europeia em crise e a imigração, da qual preferem não falar muito.

Ainda vale uma menção honrosa ao plano final do filme. Aberto, em todos os sentidos. Defendo muito esse cinema aberto, sem explicações redondas e claras, sem deixar o espectador confortável. Gosto do cinema que não explica. Gosto do cinema que pergunta mais do que responde. E este plano final de Caché é um manifesto por si só.




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Cena do youtube:

http://youtu.be/lS4VVUYsK44

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Próxima semana:
Violência violenta!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pântano

Filme: Pântano
Título Original: La ciénaga
Diretora: Lucrecia Martel
Atores: Mercedes Moran, Graciela Borges, Martin Adjemian, Leonora Balcarce
Ano: 2001
País: Argentina



Quando fui ao cinema ver este filme, na onda de cinema argentino, levei certo choque. Aquilo que eu via ali nada tinha a ver com a leveza e simplicidade do cinema de seus compatriotas. Pouco tinha a ver com qualquer coisa, era um filme estranho, diferente de tudo. Em alguns momentos me pareceu como uma novela mexicana, em outros como um filme de Antonioni (com devida adaptação cultural), ou de Todd Solondz.

A primeira cena é a que fica. Aqueles personagens bêbados na beira da piscina e o som das cadeiras arrastando. Em poucos planos entendemos a podridão do clima vivido por aquela família. A classe média sem querer falar, sem querer pensar, apenas enchendo a cara para passar o tempo.

A cena que coloquei abaixo, no youtube, é muito simbólica do que é o filme para mim. Um diálogo realista, meio truncado, meio incômodo, entre duas irmãs. Aos poucos os jovens vão entrando e dando mais alegria a cena e acabam todos dançando, fazendo com que a mãe, sempre bêbada e na cama, se divertisse.

Como sempre, gosto muito de relações familiares. Este lembra um pouco Festa de Família, no sentido de que todos acabam indo para o sítio, se encontrar. E as relações são nitidamente mais profundas e mais complexas do que podemos ver assim, como observador. As brigas e paixões estão todas ali, nessas relações. Mas o filme é ainda mais merituoso pela forma como nos mostra isso. A montagem e composição de elementos vale uma observação. Há algo sempre incomodando, há sempre um ruído. Seja uma televisão ligada, crianças falando alto ou um personagem cuja presença incomoda.

Pântano é um filme assim, me deixa sempre com uma pulga atrás da orelha. Por isso o adoro.




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Próxima semana:
Violência silenciosa.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dogville

Filme: Dogville
Título Original: Idem
Diretor: Lars Von Trier
Atores: Nicole Kidman, Paul Bettany, Harriet Anderson, Ben Gazzara, Phillip Baker Hall, James Caan
Ano: 2003
País: Dinamarca (e muitos outros países)




Dogville foi uma das minhas grandes experiências cinematográficas de meu tempo. Daqueles filmes que surgiram na minha época e que eu presenciei as maravilhosas reações do público. Alguns indignados, outros maravilhados, outros apenas com sono. Aconteceu com Magnólia, Cidade dos Sonhos, Arca Russa, Caché e Dogville.

Me encantou desde o primeiro instante, na qual um narrador irônico (eu adoro ironias), começa a explicar o "conto de fadas" que veremos. E a câmera começa de cima da cidade desenhada no chão. Um estranhamento direto, sem mais delongas.

A história é cruel. Nicole Kidman - escolha perfeita - chega na cidadezinha pequena em fuga. Temos todos aqueles clichês positivos de uma pequena vila: o bom humor, a receptividade, o acolhimento, os pequenos cuidados, o jardim, os doces, as bonecas.

A estrangeira entra neste mundo em busca de apoio. Não sabemos do que. Eles cedem sua afetividade. Mas cobram, cada vez mais, por sua pretensa bondade. Ora pedem seu trabalho, ora seu corpo. Aos poucos a escravizam com crueldade. E a estupram naquela cidade sem paredes, o que é uma imagem incrível, ao mesmo tempo que é horrível.

Ela se torna a perfeita Geni. Fácil de culpar, fácil de cuspir e pisar. E os habitantes de Dogville mostram que podem muito bem serem cruéis na mesma proporção que podem ser acolhedores. E que são cheios de podridão em suas profundezas.

Lars von Trier vendeu este filme como sua visão dos Estados Unidos. Talvez estivesse procurando uma polêmica, mas creio que atingiu muito mais além. Fez uma fábula, se é que podemos chamá-la assim, sobre os homens. Especialmente para esses, que não tem como se esconder da sociedade opressora. Que não tem paredes, nem multidões para se perder. Que pecam e não são perdoados jamais.



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Cena do youtube:


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Próxima semana:
Drinks, piscina e um clima estranho.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Junho - O bicho vai pegar

Como previsto algum tempo atrás, junho é um mês para poucos. Para os que curtem um soco no estômago. Nada de violência gratuita, mas o peso da violência indireta, dos planos longos e difíceis de serem tragados.

Alguns perguntarão, por que? Para que? Mas esta é uma das funções da arte, não querer o choque pelo choque, mas buscar reações sinceras que possam ser desencadeadas em reflexões, por mais absurdas que pareçam.

O cinema mais alternativo dos dias de hoje seguem essa linha, do choque de realidade. Com linguagem mais realista, seguindo um pouco a linha do Dogma95 e de movimentos que o precederam, como a Nouvelle Vaugue, Cinema Novo brasileiro e o Neo-realismo italiano. Enquanto o cinema de entretenimento ficar nos contos de fadas, esta vertente de contra ponto irá buscar essa realidade.
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