sexta-feira, 8 de abril de 2011

J. - o personagem onipresente

No processo de criação de um roteiro de cinema que eu estou tentando escrever, meu personagem J. aparece em todos os lugares. “Claro, deve ser comum”, pensei. Mas em especial nos filmes que mais gosto encontro ele. Ora, está claro que meu inconsciente escolheu este personagem pela eterna representação que pode ter. J. é real, existe, e fica cada vez mais vivo.

Como tenho mantido este blog de meus 100 filmes prediletos, revejo a maioria deles. E é impressionante como em cada personagem eu vejo J. Ele é um perfeito Zelig, se transformando naqueles que o cercam. Talvez por isso seja tão fácil de o reconhecer, pois como homem-camaleão, é um pouco de tudo.

Chamo ele de J. em homenagem ao K. e a um leitor assíduo deste blog. E também ao J. Pinto Fernandes. Não sei se o personagem no qual é baseado se incomodaria de se ver neste texto, de ser chamado de Zelig. Em Desconstruindo Harry, sou eu que me vejo ali, como um autor que insiste em contar experiências pessoais. Mas eu talvez seja mais cauteloso e, talvez, queira agradar mais. Talvez, portanto, tenha menos sucesso.

Quando reassisti Macunaíma, compreendi muito de J. Seu lado dengoso, habilidoso com as mulheres, conquistador meio preguiçoso, que gosta de ser cuidado, que não perde uma oportunidade de “brincar” com as meninas, como ele próprio descreve.  

Mas eu resolvi escrever essa reflexão por conta do filme da próxima semana, que vou explicitar aqui com exclusividade, para os curiosos que passarem por aqui antes de segunda-feira. Antonio Bandeiras, em Ata-me, do Almodóvar, faz um personagem meio malandro também, que está saindo de uma clínica, na qual transou com a coordenadora e todas enfeirmeiras, porque se apaixonou por uma mulher. Sua facilidade para se virar, entrar e sair de meios e arranjar problemas lembra muito o personagem J.

Vi também recentemente um documentário, na mostra É Tudo Verdade, El Sicário, sobre um trabalhador do narco tráfico mexicano. Aí a relação fica mais direta, já que J. tem, como seu principal objetivo, fugir das drogas. Em Magnólia, que também permeia este mundo, ele está permeiado entre os personagens.

Aí tem o Passageiro – Profissão Repórter, qua vai entrar neste blog mais para frente, mas que tem uma cena final que tem me inspirado muito. E ele, sem querer, se antecipou aqui neste blog, por um dia. J. me avisou e eu tirei. (outro J., no caso)

Os personagens que cercam J. Nicholson em Um Estranho no Ninho me lembraram os personagens que o meu J. conheceu, por suas andanças de clínica em clínica. Em O Mundo de Andy há a mentira e a ilusão. Em Corra, Lola, Corra o jovem que precisa de dinheiro porque se meteu em uma enrascada. E em Cortina de Fumaça, Harvey Keitel é aquele que aprendeu com a vida, mesmo tendo roubado quando mais jovem.

Em todos estes casos, e muitos outros, vejo sempre J. Mas como transforma-lo em um? Como guia-lo? Como ajuda-lo a sair? Se escrevo esta reflexão é porque, talvez dela, possa surgir algo de novo, louco, diferente, sublime, perfeito. Ou não.

3 comentários:

  1. Acho que este é um bom caminho para desatolar um roteiro - Colocar as cartas na mesa. Uma nova idéia pode sair das velhas e conhecidas cartas.
    Talvez a própria reflexão possa fazer parte do roteiro...
    :-))

    ResponderExcluir
  2. tem um outro j. também, que eu conheço, que escrevia 2 paginas por dia...

    acho que esse é o caminho, escrever, ver, rever...

    p.

    ResponderExcluir
  3. sim p., pensei neste j. também. belo nome para este personagem fictício.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...