segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Entreatos

Filme: Entreatos
Título Original: Idem
Diretores: João Moreira Salles
Ano: 2004
País: Brasil
Documentário

Eu estou hoje fazendo um trabalho muito parecido com o de João Moreira Salles no filme Entreatos. Eu estou filmando a campanha da Marina Silva e do Ricardo Young, sem a intenção de fazer um documentário, mas mostrando muitas cenas de bastidores. Não sei se vale um documentário, porque já existe este, que não precisa ser refeito, independentemente do candidato.

Primeiro vamos aos fatos cinematográficos, depois aos políticos. O cinema documental observador que o Coutinho faz como ninguém é um grande trabalho de montagem sensível. Já no início do filme (cena do youtube) ele diz a que veio e explica seu documentário. O registro de tudo, desde os bastidores até os grandes comícios e eventos, faz com que ele opte por ficar mais nos bastidores, é claro.

Em uma campanha política não vemos nenhum ser humano e sim um monte de marionetes montadas de acordo com os interesses das pesquisas. Costumo dizer que as pesquisas indicam, na verdade, tudo aquilo que os políticos devem ser. Se elas indicam que a grande maioria do povo brasileiro gosta de homens de barba, os candidatos deixam a barba, se o povo crê que a amazonia deve ser devastada, pegam em suas armas, mas se querem abençoar as florestas, os candidatos tiram do bolso seus terços e cruzes. Até por isso os que se sobressaem são os mais espontâneos, como o próprio Lula. O que me agrada no filme é ver o político real, o ser humano real. O que não me agrada (mas me agrada cinematograficamente) é ver o político montado, criado, moldado. Duda Mendonça é o criador do Lula aqui. No debate, temos uma das melhores cenas do filme. Lula na TV, a equipe de pesquisa com um grupo anotando os comentário, a menina passa um rádio pedindo que o Lula seja mais didático e no bloco seguinte lá está o candidato seguindo os conselhos de seus marketeiros.

Desta forma, fazendo uma pequena comparação com as eleições que teremos neste ano, quem são os candidatos e minhas opiniões sobre eles: Serra está desesperado para ser eleito porque é, provavelmente, sua última chance. Assim, sorri, virou simpático com o CQC, conta piada, critica o Lula? Jamais, o cara é adorado. A Dilma é uma criação do Lula, evidentemente. Não tem o menor carisma e sua única bandeira é ser uma continuação do projeto. Aliás, todos que votam nela tem esse mesmo discurso, de que estão votando em Lula. Ainda não conheci quem votasse nela por convicção na própria. E Marina é autêntica, isso não se pode tirar dela. Ela é um ser humano iluminado e representa um projeto de país muito superior aos outros. Não sei se conseguirá passar sua mensagem, mas ela é a representação da esperança, o que é o Lula em 2002 e neste filme, Entreatos.

O lado humano é essencial que seja compreendido, porque toda essa maquiagem política faz com que as pessoas percam o interesse por qualquer tema que envolva política. Eu mesmo tenho muita dificuldade para engolir as chatices burocráticas e partidárias. O que é lindo é ver uma mobilização natural e espontânea, que acontece com a Marina como aconteceu com o Obama. O Brasil é um país incrível, com um potencial maravilhoso, mas parece que há um erro de percepção nas eleições. E aí eu viajaria para o meu amigo William Blake e suas portas da percepção. Mas sinto que estou ficando disperso.

Volto para finalizar. A política, ou melhor, a solução de problemas de um conjunto da sociedade, é algo que me move, me comove e me faz querer trabalhar muito por esse país. Já a política, ou melhor, as alianças por tempo de televisão, os egos, os jogos de interesse, me fazem ter nauseas e ânsia de vômito. E, no final, entre tantos enjôos e desejos, entre pessoas se espremendo e se abraçando,  entre os sonhos e entre os atos, não consigo parar de ter esperança. Preciso tomar algum remédio, talvez.


Torrent: download aqui

Cena do youtube:


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Próxima semana:
Rosebud.

4 comentários:

  1. Oi.

    Sobre este Entreatos, eu não vi e confesso que sinto uma grande irritação com seu ator principal.

    O estilo do João M.S. eu já conheço e gosto muito.

    Dei uma relida no Blog e percebi que acho mais interessante o (seu) texto do que o filme propriamente dito.

    Enfim, acho que sou mais um bom leitor do que um bom espectador.
    :-)

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  2. Vi o filme neste fds (Achei no Canal Brasil, ao zapear a programação). Passei por aqui pra ler a resenha do filme e encontrei um texto sobre política. Será que hoje o filme ainda estaria na sua lista?
    Gostei do filme (embora ele custe a passar). Acho sensacional termos este filme como documento histórico...ali vemos a concretização de um sonho, como poucas vezes aconteceu na história e de um ponto de vista dos bastidores. São interessantes as passagen em que o Lula começa a brincar com a iminente presidência, como, por exemplo, quando finge estar conversando com o Bush ao telefone.

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  3. Acho que estaria, sim, grande Bruno. Pois o filme é de grande importância pessoal, que é a essência das escolhas deste blog. Mas realmente acredito em sua força cinematográfica e na de seus personagens. Um filme maravilhoso que só poderia ter sido feito por ele, como explicita o Lula no começo do filme "deixa, é o câmera do João", para o José Dirceu.

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  4. Baixar o Documentário - Entreatos - Lula: 30 Dias do Poder - http://mcaf.ee/zgeoq

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