segunda-feira, 25 de abril de 2011

Felicidade

Filme: Felicidade
Título Original: Happiness
Diretor: Todd Solondz
Atores: Philpp Seymour Hoffman, Jane Adams, Dylan Baker, Ben Gazzara
Ano: 2001
País: EUA





Muitas das reflexões que faço na vida, especialmente na relação da sociedade com seus humanóides, mais explícito ainda no estilo de vida americano, está dito aqui. Tudo que posso dizer sobre isso, melhor dito por Todd Solondz.

 Em primeiro lugar, ele é irônico. Em segundo, ele usa humor negro. Em terceiro, ele diz, como Caetano: "de perto ninguém é normal". Felicidade! Brinca com seu título, contrapondo o que diz, sendo, no entanto, muito mais radical que Cartola, quando fez sua música "Alegria": "Alegria, era o que faltava em mim..."

A primeira personagem, chamada Joy (alegria), introduz o filme em uma cena terrivelmente brilhante. Essa atriz Jane Adams, aliás, tende a ser chamada para personagens desse tipo, meio deprês, mal sucedidas, com dificuldades em relacionamentos, um pouco esquisita. Faz papel semelhante na série "House" e no filme "Pecados Íntimos". É interessante contrapormos Felicidade a este último filme. Ambos tratam de uma mesma temática, embora um usa um espelho para reflexão, enquanto o outro usa uma cruz.

Ambos falam dessas intimidades duras, que ninguém gosta de ver, que muitos preferem usar peneiras com óculos e, no entanto, são disfarçadas nas aparências. Ambos tratam da pedofilia. E ambos tem uma trama multiplot (muitas histórias paralelas). Mas, admitindo que gostei bastante da minha analogia com o espelho e a cruz, aqui revelo o primeiro grande mérito de "Felicidade": não usar desta moral cristã como juiz, que é o que faz "Pecados Íntimos".

Enquanto Todd Solondz nos mostra a dura (talvez a mais dura já vista?) conversa do pai pedófilo com seu filho, em uma tentativa de se compreender, Todd Field mostra seu pedófilo mergulhando na piscina, de forma caricata, com um grande óculos de mergulho, para ver as crianças nadando. Os leitores do livro original que inspirou este filme repelem a cena passada para o cinema. Eu, particularmente, não li.

E assim se revela essa rede de intimidades infelizes, não necessariamente pecadoras. São relações de solitários, de insatisfeitos, de desencaixados, em uma sociedade que os esquece, os apaga e, em especial, incentiva o fingimento de que são (ou somos) felizes.

Por último, vale lembrar mais uma participação memorável de um dos meus atores prediletos: Phllip Seymour Hoffman.



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Próxima semana:
Hynkel e Napaloni.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Homem que Não Estava Lá

Filme: O Homem que Não Estava Lá
Título Original:The Man Who Wasn`t There
Diretor: Joel e Ethan Coen (Irmãos Coen)
Atores: Billy Bob Thornton, Frances McDormand, James Gandolfini, Scarlet Johansen
Ano: 2001
País: EUA





Não lembro com quem tive uma conversa certa vez, mas teve sim alguém que concordou comigo quando relacionei o livro O Estrangeiro, de Albert Camus com o filme O Homem que Não Estava Lá, dos irmãos Coen.

Mais uma vez, ao exemplo do filme da semana passada, considero esse a obra-prima dos irmãos Coen. Acompanho seus filmes, tendo visto quase todos e, apesar de recentes quedas, também mostram o quanto são bons ao fazer filmes como Um Homem Sério.

Bom, tanto no livro de Camus como no filme, o personagem principal tem como principal característica essa ausência. Eles não estão. Billy Bob Thornton é um barbeiro que vive de acordo com o que lhe é oferecido e esperado, sem querer aparecer demais, sem grande vibração ou aspiração. É pouco, aparece pouco, requer pouco.

Muitas vezes eu mesmo me sinto assim. Vivemos aquilo que devemos? Devemos algo? Somos destinados a algo? Devemos pensar em algo? Ou o melhor é simplesmente não pensar e “deixar a vida te levar”? Assim, ser e estar se tornam verbos que não se encaixam em um só, como o “être” em françês.

Você é, mas não está. Essa diferença pode parecer tola, mas tente explicá-la para aqueles que a língua impossibilita. Ou, no caso deles, como o uso do “wasn’t” no título original, permite ao menos outras possibilidades. Se, tirando o “there”, tivéssemos um título “The Man Who Wasn’t”, sua interpretação para nossa língua portuguesa seria completamente outra.

Enfim, ambos não estavam. Ambos se envolvem em um assassinato. Ambos têm facilidade para aceitar fatos que nos parecem absurdos. E nenhum deles luta por sua vida por uma vontade interna que os motiva, como seria de esperar de nossos exemplos de lutadores. Se lutam por algo é, no máximo, para que não os incomodem com perguntas cheias de “por quês”.

Por último, o filme ainda tem muitos outros méritos, mas a fotografia preto e branca, com referência explícita dos filmes “noir”, é perfeita. As nuância, as sombras, os vários planos de luzes. Lindo.



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Próxima semana:
Felicidade não se compra...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ata-me

Filme: Ata-me
Título Original: Átame!
Diretor: Pedro Almodóvar
Atores: Victoria Abril, Antonio Bandeiras
Ano: 1990
País: Espanha



Eis a obra prima de Almodóvar. Poucos, ou talvez ninguém, concorde comigo. Mas vejam e revejam este filme, porque ele merece.

Um homem rapta uma mulher, justificando que só assim ela vai poder se apaixonar por ele. Podemos imaginar essa premissa de diferentes formas. E encontrar o ponto certo do tom narrativo não é nada fácil. Mais uma crise que tenho passado e todos esses filmes que tenho reassistido acentuam minha crise. Pois acredito que a escolha de Almodóvar aqui, pela leveza, um dos princípios de Ítalo Calvino, é precisa. Mas não consigo determinar uma linha que seja definitiva para mim, ora a leveza, ora o peso, ora o bom humor, ora o humor negro, ora a dura realidade. São tantas as possibilidades de se realizar uma grande obra e tantos caminhos possíveis que, em um acerto como este, geralmente seguido pelo instinto, precisamos dar muitos créditos.

Almodóvar e eu temos uma coisa em comum: gostamos de mulheres loucas. Não que haja alguma que não seja. Mas fazia tempo que não aparecia uma neste blog. E enfim, uma bela homenagem. Antonio Bandeiras, jovem e brilhante, como todos os atores que Pedro trabalha, persegue e seqüestra Victoria Abril, que faz uma atriz ex-pornô. Está decidido a ser seu homem, casar e ter filhos. Ela, que nem o conhece, reage na defensiva, evidentemente. Ele tem que usar a violência e a prende na cama sempre que vai sair. Mas as mulheres são loucas, sim, são. Estão, por mais que digam o contrário, a espera do príncipe encantado, do macho provedor e protetor, daquele que diz "vou cuidar de você". Este lado emocional dela luta contra seu lado racional, que a vê seqüestrada por um louco.

Depois de alguns dias, alguns conflitos e algumas piadas, ele sai atrás de heroína, para acalmar a dor de sua fêmea. Se envolve em uma briga e volta para casa todo ferrado. Aí ela não resiste, surge seu lado feminino do cuidado, do "preciso cuidar do meu homem" e está definido seu amor.

Quanto ao final, já vou contar aqui, entra nas estatísticas dos fins com estrada, como comentei neste post. Eles cantam no carro "Revivere", que é uma espécie de adaptação da música "I will survive", que, por sua vez, encerra o filme O Mundo de Andy.

Agora, ao reassistir o filme, notei uma cena muito interessante, que não lembrava, que achei no youtube e está abaixo. É uma propaganda para aposentados espanhóis. Brilhante.




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Próxima semana:
O Estrangeiro, versão cinematográfica.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

J. - o personagem onipresente

No processo de criação de um roteiro de cinema que eu estou tentando escrever, meu personagem J. aparece em todos os lugares. “Claro, deve ser comum”, pensei. Mas em especial nos filmes que mais gosto encontro ele. Ora, está claro que meu inconsciente escolheu este personagem pela eterna representação que pode ter. J. é real, existe, e fica cada vez mais vivo.

Como tenho mantido este blog de meus 100 filmes prediletos, revejo a maioria deles. E é impressionante como em cada personagem eu vejo J. Ele é um perfeito Zelig, se transformando naqueles que o cercam. Talvez por isso seja tão fácil de o reconhecer, pois como homem-camaleão, é um pouco de tudo.

Chamo ele de J. em homenagem ao K. e a um leitor assíduo deste blog. E também ao J. Pinto Fernandes. Não sei se o personagem no qual é baseado se incomodaria de se ver neste texto, de ser chamado de Zelig. Em Desconstruindo Harry, sou eu que me vejo ali, como um autor que insiste em contar experiências pessoais. Mas eu talvez seja mais cauteloso e, talvez, queira agradar mais. Talvez, portanto, tenha menos sucesso.

Quando reassisti Macunaíma, compreendi muito de J. Seu lado dengoso, habilidoso com as mulheres, conquistador meio preguiçoso, que gosta de ser cuidado, que não perde uma oportunidade de “brincar” com as meninas, como ele próprio descreve.  

Mas eu resolvi escrever essa reflexão por conta do filme da próxima semana, que vou explicitar aqui com exclusividade, para os curiosos que passarem por aqui antes de segunda-feira. Antonio Bandeiras, em Ata-me, do Almodóvar, faz um personagem meio malandro também, que está saindo de uma clínica, na qual transou com a coordenadora e todas enfeirmeiras, porque se apaixonou por uma mulher. Sua facilidade para se virar, entrar e sair de meios e arranjar problemas lembra muito o personagem J.

Vi também recentemente um documentário, na mostra É Tudo Verdade, El Sicário, sobre um trabalhador do narco tráfico mexicano. Aí a relação fica mais direta, já que J. tem, como seu principal objetivo, fugir das drogas. Em Magnólia, que também permeia este mundo, ele está permeiado entre os personagens.

Aí tem o Passageiro – Profissão Repórter, qua vai entrar neste blog mais para frente, mas que tem uma cena final que tem me inspirado muito. E ele, sem querer, se antecipou aqui neste blog, por um dia. J. me avisou e eu tirei. (outro J., no caso)

Os personagens que cercam J. Nicholson em Um Estranho no Ninho me lembraram os personagens que o meu J. conheceu, por suas andanças de clínica em clínica. Em O Mundo de Andy há a mentira e a ilusão. Em Corra, Lola, Corra o jovem que precisa de dinheiro porque se meteu em uma enrascada. E em Cortina de Fumaça, Harvey Keitel é aquele que aprendeu com a vida, mesmo tendo roubado quando mais jovem.

Em todos estes casos, e muitos outros, vejo sempre J. Mas como transforma-lo em um? Como guia-lo? Como ajuda-lo a sair? Se escrevo esta reflexão é porque, talvez dela, possa surgir algo de novo, louco, diferente, sublime, perfeito. Ou não.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Magnólia

Filme: Magnólia
Título Original: Magnolia
Diretor: Paul Thomas Anderson
Atores: Julianne Moore, Phlip Seymour Hoffman, Tom Cruise, John C. Reilly, William H. Macy, Phillip Baker Hall, Jason Robards
Ano: 1999
País: EUA


Magnólia é um daqueles filmes que me marcaram desde seu primeiro instante de existência. Assistir no cinema foi, para mim, experiência semelhante a primeira vez que assisti Uma Mulher é Uma Mulher e Dogville.

A primeira sequência, memorável, está na cena do youtube abaixo. Faz uma introdução, para falar dos acasos e coincidências da vida, com um formato surpreendente. O narrador conta os fatos rapidamentes, casos destes que chamamos de "bizarros". Isso cria um forte impacto no espectador que não está esperando aquela explosão de imagens e fatos e vozes e reflexões e pensamentos. Depois a coisa vai com mais calma.

Um a um, os personagens são introduzidos com seu tempo e espaço. Trata-se de um filme com muitos "plots" (tramas), difíceis de serem conduzidos com habilidade. A previsão do tempo dita o ritmo, que vai prevendo uma chuva cada vez mais intensa. Até que chega a gloriosa e brilhante chuva de sapos.

Há muitas referências bíblicas e muitos detalhes dentro do filme para aqueles que gostam de encontrar as agulhas no palheiro. Não me interesso muito por elas. A chuva de sapo tem uma importância muito maior para mim, do que as pragas enviadas por deus ou algo do gênero. Trata-se de uma quebra de realidade reflexiva com uso de elementos absurdos. Mais uma vez volto a esse tema que me atrai. Os sapos, caindo aos montes por todos aqueles personagens, vem em um momento ápice de introspecção. Depois, a redenção.

As relações falsas, a realidade rasa, a fuga da verdade e, em especial, a mentira como todos eles levavam suas vidas estão refletidas na verdade dos sapos caindo. Os coloca diante de suas profundas realidades, que não queriam, ou tinham medo, de enxergar. Com a consciência, podem se compreender e agir, ou se aceitar.

Outro momento semelhante é quando, cada um em seu canto, acompanham a música Wise Up, de Aimee Mann. Aliás, a trilha sonora merece respeitada consideração. Assim como os atores, a direção e a montagem. Entre todas essas figuras estão dois atores que considero gênios atuais: Julianne Moore e Philip Seymour Hofmann.







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Cena do youtube:




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Próxima semana:
Os homens são muito loucos, mas as mulheres...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Abril - Profundezas

Mergulharemos nas profundezas dos personagens e encontraremos um grande vazio, um silêncio profundo e, quem sabe, algum sentido. São muitos personagens, muitos caminhos, muitas loucuras e incertezas.

Veremos máscaras alegres que escondem tristes realidades. E, no entanto, uma felicidade pretendida nem sempre alcançada, mesmo por aqueles que a acreditam ter. Talvez encontrem algum sentido em pequenas coisas, em relações incomuns, fetiches esquisitos. Ou, talvez, ao nos mostrarem seus lados tristes e vazios possam permitir a entrada de algo ali que os conforte.
A previsão do tempo de abril é cinzenta. Pancadas fortes de chuvas. E, quem sabe o que mais pode cair do céu?
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