segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pro Dia Nascer Feliz

Filme: Pro Dia Nascer Feliz
Título Original: Idem
Diretor: João Jardim
Ano: 2005
País:Brasil
Documentário


Para finalizar a temática da educação, no mês de julho, nada melhor do que este incrível panorama da educação e do pensamento de jovens brasileiros.

Escolhendo alguns pontos estratégicos, de todos os tipos sociais e culturais, o filme entra e sai de diversos mundos e personagens que vivem uma mesma realidade: os conflitos de uma determinada idade.

De norte a sul do país, de escolas públicas tão pobres como a de Nenhum a Menos até escolas da alta classe paulistana, vemos alguns recortes feito pelo diretor com olhar atento e grandes pérolas que aparecem no caminho, como se fossem coisas naturais da vida. A que mais impressiona, sem sombra de dúvidas é uma garota brilhante de uma escola muito pobre do sertão nordestino, que recita textos de criação própria, belíssimos, pelos quais foi castigada, pois os professores não quiseram crer serem realmente seus. (deixei no youtube parte do filme com a participação desta garota)

O modo de falar carrega a cultura local e suas particularidades de tribo. Basta comparar aí a escola periférica do Rio de Janeiro e a de alta classe paulistana. Com leve ironia, aliás, mostra as garotas de classe média alta preocupadas com questões que não fazem absoluto sentido, dadas as outras realidades que nos foram mostradas. No entanto, creio eu, que há nesta aspiração do filme uma moralidade de certa forma injusta, pois, ao criar este mosaico tão rico e tão diverso, vale toda e qualquer manifestação. Mas talvez o problema seja, na verdade, o meu julgamento inevitável.

O que é essencial do aprendizado que se tira desta pequena obra prima é que há beleza em tudo e em todos. Os documentários brasileiros, aliás, tendem a seguir esta linha muito interessante, de encontrar beleza nas formigas, em uma esquina, em um poste mal cuidado, em uma garota desesperada, no seu caminhar, em todo e qualquer ser humano, no modo como morrem e no jeito indescritível de como olham o mundo.



Torrent: download aqui
(vai demorar pois tem poucos seeders...)


Cena do youtube:


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Próxima semana:
A verdade ou a mentira em um mundo de verdades ou mentiras, na vida do homem verdade. Ou do homem mentira?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ser e Ter


Filme: Ser e Ter
Título Original: Être et Avoir
Diretor: Nicolas Philibert
Atores: Georges Lopez
Ano: 2002
País: França


Tenho planos de fazer um documentário ao estilo de Ser e Ter. O que significa isso? Uma câmera reflexiva que permite o tempo a criança, tão acostumada com a câmera a ponto de que tenha um convívio natural. As crianças são realmente incríveis. Existe um projeto, chamado "Seven Up" de um documentário feito na Inglaterra a cada sete anos. O primeira, na década de 60, se não me engano, era com crianças de sete anos. Genial também.

Em Ser e Ter há, ainda, este conceito que dá o título do filme. O documentário registra um ano na vida de uma escola rural, que tem estilo característico: trata-se de um tipo específico de escolas francesas, já não muito comuns, na qual apenas um professor dá aulas para diversos alunos de diferentes idades. Ou seja, todos os alunos da região, até completarem idade suficiente para frequentarem o primário, têm aula com este professor.

Os documentários têm me encantado cada vez mais, pois trazem uma linguagem mais livre, mais aberta, mais inesperada e, inevitavelmente, mais real. Temos um grande apreço pelo real, especialmente quando é tratado como tal. Se no filme Nenhum a Menos a atração cai sobre o menino problema da sala, aqui não é diferente. O astro é Jojo (na foto), figura impagável. Toda cena em que está lá o astro pode-se esperar que virá coisa boa. Fica evidente como a câmera percebe rapidamente que onde está o menino problema está o interesse quando, no final do filme, completando-se o ciclo do ano, entram novos alunos e a câmera de imediato passa a acompanhar o menor dos meninos, que já sai andando pela sala, meio perdido, até resolver chorar, pedindo por sua mãe, sem ter ninguém para acalmá-lo.

As aulas passam por todos os temas desde francês até culinária e muito se aprende sobre este cultura rural da França. O garoto mais prendado, que não vai muito bem nas aulas de matemática, sabe cozinhar, andar de trator, trabalhar na roça. De uma aula de francês sai uma cena genial, que colquei no youtube. O professor está ensinando (e eu vou ter que traduzir) o feminino e masculino de amigo. Então dá o exercício em que todos têm que completar a frase: fulana é minha... fulano é meu... todos vão bem até que um deles resolve completar com colega, ao invés de amigo, sabe-se lá o porquê.  E não há argumento que faça o menino mudar de ideia.

Há ainda a passagem do tempo e das estações, os pequenos detalhes e as pequenas cenas que fazem este filme grandioso. É interessante observar o estilo de documentário e como ele consegue criar uma narrativa a partir de um longo tempo de filmagem. Um primeiro recurso para isso é não se apegar a essa pasagem de tempo e tentar fazer um resumo de tudo que aconteceu. Se assim fosse, o filme não passaria de um grande clipe. O que ele faz é retirar trechos simbólicos, longos, de cada trecho. Também é uma forma de fazer o recorte. Em documentários, mais vale aquele que trata a parte pelo todo do que o todo pelo todo. Existe uma figura de linguagem para isso, mas não sei ao certo qual é.

Fico apenas com uma exceção, a entrevista. Há apenas uma entrevista no filme, com o professor. Por que, meu deus, por que?! Percebe-se que não é a praia do entrevistador, que não tira nenhuma informação útil e deixa o momento engessado, quebrando também toda a estrutura ausente da câmera. Apesar da cosciência da existência das câmeras, ê muito bom ver filmes documentais como se elas não existissem.

Uma cineasta brasileira, chamada Maria Augusta Ramos, dos filmes Juízo e Justiça faz isso muito bem, nestes dois grandes documentários observadores sobre nosso sistema judiciário.


Torrent: download aqui
Legenda: download aqui


Cena do youtube:


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Próxima semana:
E as escolas brasileiras?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Arquivo de olhos

No mês de junho, foram os olhos de Jim Jarmusch que recepcionaram o blog. Para quem já viu a figura não era tão difícil assim.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nenhum a Menos


Filme: Nenhum a Menos
Título Original: Yi ge dou bu neng shao
Diretor: Zhang Yimou
Atores: Minzhi Wei
Ano: 1999
País: China



Uma história pode ser contada de diversas maneiras. Esta, que trata essencialmente da perseverança de uma professora substituta, poderia ser recontada pela disney com muita tranquilidade. Com treze anos, se torna substituta em uma escola muito pobre do campo chinês, pois não havia mais ninguém para dar aulas no lugar do professor oficial.

Ele reluta em aceitar deixar seus alunos com uma garota que mal saiu do ensino primário, mas acaba aceitando, deixando apenas um pedido, que ela não perdesse nenhum aluno, já que a turma estava ficando cada vez mais escassa. Mas com um roteiro que poderia descambar para um filme da disney, Nenhum a Menos é sensível, delicado, brilhante e não deixa de ser emocionante. Faço apenas uma ressalva para um texto final que conta o destino final dos personagens, totalmente desnecessário.

Ao perder um dos alunos, a professora começa uma peregrinação para recuperá-lo. Neste caminho, muito podemos absorver como aprendizado interessante, seja sobre o modo de vida rural da China ou pelo modo interessante de pensar de seu povo. As crianças aprendem canções que exaltam as belezas e forças do país e de seus comandantes. Há os conflitos de uma vila pequena, sem verba para a escola, na qual eles têm que economizar o giz. A necessidade de recursos para pequenas melhorias, uma água, uma caneta, um sapato, são muito recorrentes em filmes desta natureza. O descaso que a nova professora tem com o giz faz com que uma das alunas, chefe da sala, quase da mesma idade da professora, escreva um texto que é lido em voz alta por um dos garotos, a contra-gosto da menina, que forma uma das cenas mais belas do filme.
Os meninos, aliás, apesar de orientais - o que os poderia colocá-los como semelhantes - são de grande expressividade. E no cinema são sempre os mais agitados que recebem a atenção. O sapeca da turma, que mais apronta, é também o que vai à cidade trabalhar para ajudar a família. É atrás dele que parte a professora. Coloco na cena do youtube trecho do filme, falado em chinês, para que se compreenda o espírito do filme.

Este mês, com o tema de educação, será muito interessante para que se tenha uma visão muito diversa de como funcionam as escolas do mundo. Como é importante o background cultural para se compreender determinada cultura. Claro que o cinema traz visões e não verdades, o que é sempre necessário deixar evidente, mas são ótimos objetos para estudo da história.


Torrent: download aqui
(já vem legenda em português de Portugal)
Legenda: download aqui


Cena do youtube:




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Próxima semana:
Elle est mon ... copine.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Arquivo de olhos

Olhos usados em maio. A incrível Uma Thurman, em Pulp Fiction. Essa era fácil de descobrir.








segunda-feira, 5 de julho de 2010

Entre os Muros da Escola


Filme: Entre os Muros da Escola
Título Original: Entre les Murs
Diretor: Laurent Cantet
Atores: François Bégaudeau, Agame Malembo-Emene, Angélica Sancio
Ano: 2008
País: França




Muitos tentam, mas são poucos os cineastas que conseguem manter a atenção em filmes que se passam, praticamente, em um mesmo local. Seja por sua linguagem interessante ou roteiros muito ricos, tramas que não fogem de uma locação e que são competentes em manter a qualidade são raras. É difícil não apelar para uma trilha que dê um respiro, para um momento de amor, para uma paisagem relaxante ou um clipe de imagens divertidas.

Entre os muros da escola não falta tensão. Não faltam também excelentes personagens, de grande complexidade. Em uma escola da França, na qual quase nenhum dos alunos tem descendência francesa, os conflitos estão escancarados desde o instante em que se abrem as portas da sala de aula. Entramos na sala de aula como se assistíssemos a um reality show de uma escola periférica francesa.

Alguns temas ficam, então, explícitos: em primeiro lugar a cada vez mais presente migração de países sub-desenvolvidos para os desenvolvidos, preocupação que irá cada vez mais atingir os países ricos e ficar cada vez mais presente nos cinemas; em segundo lugar a dificuldade de uma educação pública para uma diversidade tão grande de jovens, de diferentes culturas e que não trazem quase nenhuma relação com seu professor; em terceiro justamente este distanciamento cultural entre professor e alunos e a dificuldade que ele encontra de chegar até eles. Em um momento extremo, os alunos começam a questionar os exemplos usados pelo professor, os nomes ocidentais e a falta de referência ao cotidiano daqueles jovens, árabes, asiáticos, periféricos.

Como um filme tão simples, de estrutura e formato simples pode embrulhar o estômago e me deixar tenso do início ao fim? A resposta não é tão complexa. A teia de relações é tão bem feita e tão real, tão bem elaborada e pouco maniqueista, tão cheia de sutilezas que é impossível não se enervar. Não sei se alguém se identifica com os alunos, talvez muitos jovens o façam. Mas eu e o provável público deste blog se identificará com o professor. No ápice dos conflitos e irritações, ele não segura a ira e chama duas alunas de "vagabundas". Eu também as xinguei e senti na pele do professor o erro deste exagero, não pude manter a calma. Mesmo eu, que tenho a calma em meu ser. Em uma análise do francês utilizado no filme, pelo que me foi explicado certa vez, a palavra "vagabunda" não tem, no entanto a mesma conotação que nós temos. Talvez má traduzida (talvez, pois gosto desta força da palavra), seu significado em francês vai apenas para o lado "desocupada, preguiçosa, sem ofício" e não chega ao "vadia, meretriz, prostituta".

Eu li também o livro que inspirou o filme e não consegui avançar desta cena. Talvez haja aí algum trauma mal resolvido, não sei. Só sei que o filme é brilhante, uma forte demonstração de realidade, um grande aprendizado, apesar de tudo.

Torrent: download aqui
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Cena do youtube:


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Próxima semana:
Como funciona a educação na área rural da China?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Julho - Educação

Com a ideia retirada do último filme de junho, Elefante, elegi quatro filmes para tratar no mês de férias escolares. É um assunto que muito me interessa, a sala de aula e suas relações, a educação e suas grandes complicações.


Me lembra uma questão muito complexa existente nas comunidades judaicas do kibutz, onde as crianças eram educadas sem a presença dos pais. Uma educação igual para todos. Me lembra que educação, em ano de eleição é tema de todo discurso e ponto fundamental para qualquer ideal de país criado pela classe média (eu me incluo). Mas o meu ideal vai longe de apenas alfabetizar a população e mais longe de ter escola para todos. Meu ideal inclui uma educação cultural, que traz valores de cidadania, respeito, coexistencia e corelação. Uma educação que faça compreender o mundo interconectado, que seja mais filosófica e menos vestibularística, que seja mais orgânica (essa palavra é muito da moda).


Enfim, na minha lista estavam ali, além de Elefante, um último filme vencedor de Cannes, para completar os dez que tinha prometido, um belíssimo filme chines e dois documentários. Enfim começa a aparecer este gênero que é muito desconsiderado mas que muito me agrada.

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