segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Adaptação

Filme: Adaptação
Título Original: Adaptation
Diretor: Spike Jonze
Atores: Nicolas Cage, Meryl Streep, Chris Cooper
Ano: 2002
País: EUA



Tenho, recentemente, me dedicado a escrever um roteiro de longa-metragem. Será o meu primeiro. Não é fácil. Existem muitas regras. Por um lado servem para que eu garanta a tranqüilidade da narrativa em um momento de desespero. Por outro, servem para serem quebradas. Mas sei das crises internas do autor, da dificuldade que é avançar nesta escrita, da difícil tarefa de se disciplinar e, pior de todas, da incerteza de qualidade. Tenho medo, admito, de errar.

Por isso me identifico com o roteirista em crise vivido por Nicolas Cage em Adaptação. Com uma dura tarefa de adaptar um livro de orquídeas, ele procura uma história que não há no livro. Precisa de um enredo, de uma trama, de mudanças no personagem, de conflito, de um herói. 

Surge então seu irmão gêmeo, também vivido por Nicolas Cage, que faz seu contra peso. Ele, que nada tem a ver com as crises do escritor, que nada tem de aspirações artísticas, decide ser, como o irmão, um roteirista. Faz algum curso técnico, rápido, cheio das regras básicas. Seguindo bem a linha o que aprendeu chega ao sucesso rapidamente, enquanto o irmão ainda está preso nas orquídeas. Na cena que eu coloquei abaixo, ele participa de uma palestra de Robert McKee. Excelente! 

Charlie Kaufman, o roteirista, se coloca no filme como personagem principal. Cria esse irmão gêmeo (que assina também o roteiro do próprio filme). E sendo incapaz de encontrar alguma solução possível, segue um pouco a linha do irmão, entrando em soluções que envolvem crimes e mortes. Aliás, nada mais comum do que matar seu personagem no final, pois a morte já é, naturalmente, um fim. Por isso deve ser evitada por roteiristas que aspiram inovação. Finais de filme, aliás, não são fáceis. 35% dos filmes acabam com estrada. 27% terminam com uma cena de céu ou mar. E entre todos, 73% dos filmes resolvem algum conflito com morte. (estes dados não tem veracidade alguma) Esta foi uma das razões pela qual fiquei irritado com este novo filme da Sofia Coppola - entra na lista dos que acabam com estrada.

Bom, é quase unânime o gosto por Charlie Kaufman entre as pessoas que fazem cinema. Aliás, ele é um dos poucos, se não o único, roteirista que é conhecido apenas por essa função. E grande parte deste reconhecimento veio desta aparição egoica dele dentro de seu próprio roteiro. Outra cena que gosto muito é  uma na qual Charlie Kaufman resolve dar uma passada no set de Quero Ser John Malkovich e fica ali de longe observando a filmagem da cena do andar sete e meio.



Torrent: download aqui
Legenda: download aqui



Cena do youtube:



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Próxima semana:
Dá um bai, Ló...

4 comentários:

  1. O dados percentuais que voce escreveu, os 35%, 27% e 73%, não tem validade alguma?
    Isto faz parte do seu roteiro?

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  2. Sem pre tive curiosidade de ver este filme, mas alguém, cuja opinião sobre cinema eu respeito, me disse que era chato...acabei por não ver. Lendo agora a sua resenha, achei muito boa a história. A cena que você selecionou é mto engraçada....ri mto aqui. Esta é umas das razões pelas quais eu evito fazer questionamentos em público...o palestrante pode ser uma pessoa instável...algo semelhante já me aconteceu....

    Abraço

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  3. Os dados não tem validade alguma. Mas não fazem parte do meu roteiro. Estou pensando em terminar com um olho, talvez se fechando...

    Bruno, tenho certeza que você vai gostar do filme, por diversas razões. E esta cena é um pouco a alma do filme, pois é um discurso padrão dos roteiristas: tem que ter conflito! Mas ao mesmo tempo vem o questionamento. Será?

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  4. Ontem re-assisti Terra Estrangeira. É a contra-prova da minha tese, já que ele mata todos os personagens no final e (quase) termina com estrada.

    e é um puta filme.

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